Atualizado em 27/11/23.
Nesta publicação a Conversa no Cais propõe-se a pensar sobre as brincadeiras tradicionais infantis enquanto expressão da cultura do brincar, transmitida de geração em geração principalmente pela oralidade, que preserva uma produção cultural regional e isso é uma das coisas que nos encanta no Brasil, a diversidade de ritos e versões de brincadeiras e cantigas de um lugar para outro.
Kishimoto (1999), nos lembra que “Enquanto manifestação livre e espontânea da cultura popular, a brincadeira tradicional tem a função de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar. Por pertencer à categoria de experiências transmitidas espontaneamente conforme motivações internas da criança, a brincadeira tradicional infantil garante a presença do lúdico, da situação imaginária.”
As brincadeiras de rua e de roda eram um convite para as crianças se encontrarem. A calçada em muitos lugares deixou de ser um espaço de brincadeiras e atualmente esse encontro se dá nos espaços educacionais, nos condomínios e nos quintais das casas. Não se trata de dizer o que é mais importante, porque o importante mesmo é brincar e sabemos que a brincadeira está vinculada à contemporaneidade.
O que mudou nas brincadeiras das crianças? Por que tanta imitação da cultura americana, haja visto a dimensão que vem tomando os festejos do Halloween em nosso país. Também temos uma cultura riquíssima, como lendas, cantigas, danças regionais, ladainhas, parlendas que povoam a cultura brasileira e não podem ser esquecidas.
As brincadeiras podem ser consideradas uma herança cultural e uma possibilidade de valorizarmos a nossa ancestralidade. O Brasil possui uma diversidade cultural por meio das matrizes fundadoras, a europeia a indígena e a africana. Contudo, historicamente a europeia sempre foi mais valorizada, daí a importância de leis tornando obrigatório o reconhecimento das contribuições das culturas indígena e africana. Lembremos das cantigas de ninar ou acalantos que são melodias com letra simples e muitas delas sem letra de forma que favoreça o necessário balanço para o aconchego da criança. As canções de ninar existem em todas as culturas, em todos os tempos e lugares, e são sempre cheias de ternura, povoadas de chiados, ru, ru rus, la ra lás e a reprodução dos sons da natureza, como dos pássaros, grunhidos dos animais, ritmos do tambor, maracá e sons de folhas e sementes ao balanço dos ventos, tão característicos da cultura indígena. Os ritmos africanos também trazem sua marca com variados instrumentos percussivos e pelas palmas e a malemolência dos sacolejos, rebolados e sapateados.
A forma de manter viva essas cantigas é a criança aprender a brincar com os mais velhos.
Isso nos faz pensar nas possibilidades que um espaço pode oferecer para estimular a socialização. Os espaços ao ar livre como praças e parques quando bem equipados, com brinquedos variados e seguros estimulam a criatividade infantil. Os gestores públicos precisam garantir áreas públicas de qualidade que convidem as crianças de todas as faixas etárias a brincar. Infelizmente uma realidade ainda distante quando olhamos para muitos dos espaços públicos pelo Brasil afora.
Diferentes de algumas cidades europeias, muitos dos nossos espaços públicos não são intencionalmente planejados em contextos (forma de organizar os brinquedos que atrai e convida para uma brincadeira com muitas possibilidades corporais, principalmente de faz de conta) que possibilitam descobertas, explorações e experiências. O brincar é um direito das crianças, que se efetiva pelas oportunidades de viverem as infâncias, de (re)inventar, (re)criar, das crianças deixarem suas marcas e seus rastros… As brincadeiras se transformam em memórias e ficam impregnadas no nosso corpo.
Bora brincar???
0lhe o que separamos para você
Palavra Cantada – pot pourri parlendas – Obras de domínio público. https://youtu.be/cqp4N_Hqxvs
KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1999.
A cultura popular caracteriza-se pela participação ativa do povo na produção e expressão artística na literatura, na arte, na dança, no folclore, na música, nos ritos religiosos. Ancorada em tradições, ela é construída no seio de uma comunidade que é simultaneamente sua autora e seu público. Existe uma identificação direta e grande proximidade entre os que a concebem e os que a absorvem. Há nesse tipo de cultura um protagonismo caracterizado na ideia de feito por nós e para nós. Disponível no site Cultura erudita: origem, características, exemplos. Pesquisa realizada em 22/03/2023.