O que é o projeto de Zero a Um?
Dizem que ser avó é ser mãe duas vezes. Mas não é bem assim… A criança nasce e olhamos para ela como se fosse a primeira vez que estivéssemos presenciando um nascimento: alegria, euforia, amor incondicional, preocupações, medos, desafios que estão por vir. Uma criança nasce, uma nova história começa. A proposta deste relato é compartilhar a trajetória do primeiro ano de vida da Aurora e do Davi sob a perspectiva das pedagogas e avós Daisy e Ana Celina (respectivamente) com a preciosa mediação da Sandra. E foi assim que o Coletivo Cais se envolveu nesta história.
“Foram muitos alecrins dourados cantarolados em busca de sonecas longe do peito da mamãe. Retomamos cantigas que nem lembrávamos mais a letra. Quão precioso foi o cancioneiro infantil brasileiro com seus ricos gestos, rimas e ritmos. As parlendas fizeram muito sucesso, fosse pra brincar, dormir ou comer. Assim foi se estabelecendo uma relação das cantigas/músicas em diferentes momentos da rotina, e por volta dos 8 meses já tínhamos uma playlist encantadora.”(Coletivo Cais)
Bebês gostam de conversar
Os bebês gostam de conversar. Avós gostam muito mais de conversar com os bebês. Ufa, como falamos!!!
Assim, desde o nascimento, Aurora e Davi tiveram a experiência de participar de longas conversas nos momentos de cuidados na rotina diária. Longos papos geralmente oriundos de perguntas e respostas da avó, como se o bebê já pudesse acolher as interrogações e respondê-las: “Como você está? Dormiu bem? Quer um colinho da vovó? Adivinha quem está aqui? Quem vai brincar com a vovó hoje? Cadê a vovó?” Nossas vozes logo passaram a ser reconhecidas.
Nossos sentimentos e emoções de muitas formas chegavam até eles, ora pela fala, ora por meio de cantigas, poesias, rimas, abraços, beijos, e voltavam até nós em forma de sorrisos, pernas e braços estendidos e muitos ‘besouros babados’. A conversa com eles sempre foi acompanhada de mãos que acariciavam e gesticulavam, do colo que os embalavam e das risadas gostosas dos pequenos.
Sabedoras da importância de uma rotina organizada para os bebês, as contações, leituras e cantigas fizeram parte da vida deles desde muito cedo. Impressionava ao observar como olhavam nossos olhos, bocas e mãos tentando desvendar o que significava cada expressão e palavra. Como um bebê tão pequeno, de 3, 4 meses de idade pode ficar tão atento a esses movimentos?
Ao ouvir um som diferente, os bebês logo nos procuravam com os olhos arregalados com aquela expressão de espanto que dizia “Vovó o que tá acontecendo?” E assim adquirimos o hábito de descrever a situação e oferecer aconchego diante da surpresa. Observar os bebês tão de perto nos mostrou como são atentos aos sons, estejam eles próximos ou distantes dos ruídos, como uma buzina, um carro acelerando, uma fala mais alta na rua, etc..
Foram muitas as brincadeiras desde os primeiros balbucios até 1 ano de idade, onde repetimos seus sons e apresentamos novos; as músicas acompanhadas de gestos; as cantigas que se tornaram marcos na rotina diária para hora de ninar, de se alimentar, de tomar banho e de passear.
Em nossas conversas as palavras aprendidas eram utilizadas para incentivar a substituição gradativa do que antes era apontado apenas com o dedo para conseguir.
Não, não foi vovó a primeira palavra! E chegaram a um ano como tantos outros bebês, com um pequeno repertório de palavras faladas e cantadas no meio familiar e entendendo tudo o que era dito e pedido a eles, numa relação respeitosa e amorosa.
A presença e a disponibilidade de quem cuida torna a interação afetuosa e estabelece vínculos de confiança e de proteção.
E agora o que fazer?
Foi muito difícil conviver com a fofura de um bebê e não utilizar todas as palavras no diminutivo, ou de forma errada imitando uma criança que começa a falar! Fizemos isso algumas vezes? Sim, fizemos.
Contudo, a forma como se fala com um bebê aos 4 meses não deve ser a mesma forma que se fala com um de 1 ano de idade. É importante saber quando parar para não prejudicar o desenvolvimento da comunicação dos bebês.
A paciência é um exercício necessário para dar tempo ao ritmo de fala de cada um; incentivos significativos geram aprendizados desde a mais tenra idade, mas não serão ações desconectadas do contexto ou palavras excessivamente repetidas que farão o bebê utilizá-las de forma apropriada.
O corpo também fala, é comum o bebê indicar seus desejos com o corpo, seja quando se entorta todo ou quando se manifesta contrário ao convite de um colo que não lhe é muito familiar. É preciso respeitar as reações do bebê e não fazê-lo ir à força. Por exemplo, quando o gesto de não é aprendido, seja demonstrando com o movimento de cabeça ou empurrando com as mãos, pare imediatamente o que o bebê não quer que continue, seja um alimento, uma brincadeira, um abraço.
Assim, ensinamos a dar voz aos bebês e a garantia de que os escutamos e eles rapidamente saberão que não precisarão ficar irritados com insistências. Algo de que nós adultos também não gostamos! Porém, quando a situação envolver a segurança do pequeno, aproxime-se, converse e ajude-o de forma lúdica a entender o que está acontecendo.
Olhe o que separamos para você
“A comunicação deve ser entendida como uma necessidade humana de estar e agir no mundo, como fruto do intercâmbio social. Quando do nascimento suas ações são reflexas e comumente existem as condições que lhe permite estar no mundo, como é o caso da busca pela alimentação, bem estar físico e aconchego.(…) Os bebês são receptivos às palavras, se mostram atentos, interessados e respondem ao seu modo, com o corpo, com o sorriso, com balbucios, choros, etc..(…) Cantigas, parlendas, histórias cantadas e brincadeiras afins são capazes de gerar memórias afetivas que deixarão marcas para sempre. Daí a importância das brincadeiras da tradição oral, pois, são representativas e contribuem na constituição do ser(tornar-se) humano.” – A comunicação na primeira infância, texto do Coletivo Cais publicado no blog em 2025 – https://coletivocais.com.br/a-comunicacao-na-primeira-infancia/