Sim, estamos falando das datas comemorativas, um termo por vezes polêmico, visto que, cada vez mais, temos ouvido falar em manifestações populares ou cultura popular.
Quem tem criança pequena ou trabalha com a primeira infância,sabe o que é isso… do início ao fim do ano tem-se em nosso país a prática de levar aos bebês e crianças, especialmente nas escolas e creches, uma série de comemorações que por vezes são tão distantes da realidade deles, mas ao mesmo tempo, tão presentes em nossas vivências.
Temos várias lembranças sobre datas comemorativas que infelizmente, ainda recorrentes e, precisam ser repensadas: o uso de materiais altamente poluentes como é o caso do EVA e do plástico; desperdício de papéis e outros materiais que poderiam ter outro destino que não um dia apenas; a sobrecarga da(o) professora(or) que certamente abre mão do cumprimento ou continuidade de projetos interessantes; ausência das crianças em tarefas que são realizados apenas por adultos; pouca ou nenhuma participação das famílias nessas decisões, mas que, são impactadas quando informadas a providenciar num curto prazo, roupas, brinquedos e adereços.
Se tomarmos como exemplo algumas datas como carnaval, páscoa, observa-se que na grande mídia não se fala em outra coisa! Danças, cores, músicas e produtos, adentram o universo infantil, muitas vezes, de uma forma, que é preciso questionar: Isso faz sentido para a criança ou é uma diversão para o público adulto? Para responder a essa pergunta torna-se imprescindível refletir como a criança está sendo convidada a participar de cada comemoração, se de forma ativa, expressando os seus desejos, ideias ou apenas se submetendo às escolhas dos adultos como ficar com orelhas de papel na cabeça, ter o seu rosto pintado, usar roupas ou adereços para representar personagens etc.
Antes de prever qualquer comemoração é preciso refletir sobre os significados que as crianças constroem sobre essas práticas, para tanto algumas considerações são importantes:
A educação infantil precisa ser um lugar de excelência para boas ideias e, elas se revelam quando se está atenta(o) às necessidades afetivas, motoras, artísticas, biológicas (fome, sono) e de acesso aos bens culturais dos pequenos, sendo preciso constantemente, avaliar se essas necessidades estão sendo garantidas em contraposição a uma atividade estereotipada e irrelevante.
Para romper com o movimento habitual escolar sobre a escolha de datas a se comemorar, seus processos de criação e execução devem ser avaliados continuamente. Não basta que elas estejam presentes apenas para preencher uma lacuna, por falta de um currículo pensado, planejado e adequado para a faixa etária.
Uma boa prática é construir uma rotina com as crianças. As escutas e os olhares atentos aos interesses das crianças, geram o mapa das necessidades delas.. Por tratar-se de bebês e crianças, muitas vezes a tão falada escuta, não vem necessariamente de ouvir, mas, também, de olhar, observar, entender o que faz sentido para elas.
Festejar é importante e, pode ser significativo para bebês e crianças quando atrelado às vivências de um currículo para as infâncias e, não, quando da automatização de datas festivas do calendário civil,
Olhe o que separamos para você
BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. G.. Projetualidade em diferentes tempos: na escola e na sala de aula. Projetos Pedagógicos na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.
OLIVEIRA-FORMOSINHO, J. Pedagogia(s) da infância: reconstruindo uma práxis de participação. In: Oliveira-Formosinho, Julia. Kishimoto, Tizuco Morchida. Pinazza, Mônica Appezzato. (orgs.). Pedagogia da infância: dialogando com o passado, construindo o futuro. Porto Alegre: Artmed, 2007.
OSTETTO, L. E. Planejamento na educação infantil: mais que a atividade, a criança em foco. In: Ostetto, Luciana Esmeralda (org.). Encontros e encantamentos na educação infantil. 10ª edição. Campinas – SP: Papirus, 2012.