Apesar de todos os avanços do século XXI, ainda são demandas, enfatizar as práticas acolhedoras no atendimento aos pequenos e garantir que, o cuidado e a educação sejam ações indissociáveis.
Acolher significa oferecer ou obter refúgio, proteção ou conforto físico, abrigar, amparar. Uma comunidade acolhedora deve abraçar as vontades, os interesses das crianças, suas preferências, suas necessidades individuais e coletivas.
Acolher é, portanto, um ato de educar e de afeto, e não apenas de cuidado. Como acolher uma criança que chora? Como deve ser o padrão de calçadas (passeio) para o andar da criança? Bebedouros públicos, estão na altura da criança? E o que dizer da altura das janelas, dos móveis e objetos de arte? São garantidos espaços de brincadeiras pela cidade? Escutar, abrigar, proteger e confortar são conteúdos que alicerçam uma relação atenciosa ao desenvolvimento infantil.
Ser acolhido é um direito, e por direito, entende-se colocar todos em igualdade de condições, sem quaisquer tipo de discriminação.
O acolhimento de bebês e crianças em seus territórios precisa ser prioridade nas pautas de qualquer gestão pública.
Você já percebeu que a mobilidade urbana bem como várias de suas características espaciais e relacionais, pensadas pelo/para os adultos geram na maioria das vezes restrições dos direitos infantis? Ao observar os vários equipamentos culturais e de lazer destinados às crianças, (quando eles existem), pode-se notar se o espaço foi projetado para os pequenos e se os profissionais consideraram a voz infantil.
Acreditamos ser possível criar ambientes, produtos e serviços voltados para a infância. Isso inclui projetar espaços e materiais seguros, amigáveis, propostas culturais e de lazer e outros recursos que promovam seu bem-estar, a apropriação e o desenvolvimento infantil.
Para LIMA, (1989) o espaço é sempre permeado de significado (…) produzem marcas profundas, que permanecem mesmo quando as pessoas deixam de ser crianças. Com isso, valorizar a estética, alturas, conforto, acessibilidade e cores é imprescindível na definição dos espaços para as crianças.
Vale citar algumas experiências, sobre isso, que gradativamente começam a surgir. Os hospitais, (citamos a iniciativa do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus e do Hospital das Clínicas, ambos em São Paulo), que têm investido em novos conhecimentos e escuta sobre as necessidades, medos e desejos das crianças, e, assim criando um espaço hospitalar mais lúdico para a utilização de equipamentos médicos, proporcionando experiências menos traumáticas e, que também possam ser divertidas. Esse é um exemplo claro de escuta da voz das crianças que apesar do seu estado clínico, não deixam de ser crianças.
O que seria ludicidade num espaço desses, onde tudo é tão sério e tão controlado? Pois bem, lúdico é aquilo que alimenta o imaginário infantil e, está relacionado com a espontaneidade e a autonomia das crianças, por isso, deve ser conversado com elas antes, negociado, realizado empaticamente e com “bem querer” (FREIRE,1996, p. 72). Não se trata apenas de trazer cores e enfeites, pois, um ambiente pode ser colorido mas ser opressor e sufocante.
Outra iniciativa voltada para a primeira infância é o URBAN95 (95 cm é a média de altura de uma criança de 3 anos), movimento internacional que busca incluir a perspectiva de bebês e crianças de zero a seis anos no planejamento urbano, nas estratégias de mobilidade, nos programas e políticas, e serviços oferecidos pelas cidades de Jundiaí, Campinas e Fortaleza que fazem parte desse projeto, com processos de escuta de crianças pequenas nas decisões políticas, com a indicação de possíveis melhorias no trajeto da casa para a escola.
Outras cidades também estão envolvidas no projeto URBAN95, com diferentes experiências, entre elas, Boa Vista – RR, Caruaru – PE, Niterói – RJ, Pelotas – RS, Brasília – DF. Além do Brasil, países como o Peru, Turquia, Índia, Holanda (sede), também buscaram essa iniciativa visando maior participação da infância na vida pública.
Um desafio que se coloca na contemporaneidade é integrar políticas públicas aos desejos, vozes e necessidades infantis em suas pautas decisórias, o que contribuirá para delinear o início de uma prática mais consciente sobre a participação dos bebês e crianças na sociedade. Uma tendência a ser construída.
Olhe o que separamos para você
CARTAXO A.C.; MORAES, D.V.; SILVA, S.R.P. Infâncias, um diálogo entre o direito e as práticas de acolhimento. Coletivo Cais, 2023. Disponível em: https://coletivocais.com.br/infancias-um-dialogo-entre-o-direito-e-as-praticas-de-acolhimento/ Acesso em: 21 nov. 2023.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e terra, 1996.
LIMA, Mayumi Souza. A Cidade e a criança. São Paulo. Nobel, 1989-Coleção Cidade.
TONUCCI, Francesco. A cidade das crianças- uma nova forma de pensar a cidade. Ed. Kalandraka.