Os bebês e as crianças fazem parte da cidade, contudo ainda há um paradoxo sobre a sua visibilidade no cotidiano urbano, apesar das garantias dos marcos legais. A invisibilidade da infância é histórica e o interesse por escutar o que as crianças têm para falar nem sempre é recorrente.
A vida pública é tomada pelos adultos e consequentemente acabam por afastar as crianças desse mundo dos adultos. Nesse sentido, repetindo o pensamento de QVORTRUP, percebe-se que:
“(…) as crianças perderam sua visibilidade legítima no espaço público quando foram confinadas a uma variedade de formas institucionais de infância: uma infância familiar, uma infância escolar, uma infância pré -escolar, uma infância de lazer, etc” (QVORTRUP. 2014, p.28).
Onde e como as crianças estão vivendo suas infâncias? Qual o lugar delas na sociedade?
A infância é uma categoria social, com sujeitos ativos, que têm voz e atuam no mundo, portanto, há que se romper com a visão adultocêntrica de que a criança é frágil e incompleta.
Olhar para as infâncias brasileiras na contemporaneidade, seja no âmbito social ou educacional requer sensibilidade, respeito e reconhecer suas necessidades cotidianas.
É um direito da criança ser ouvida nas suas diversas expressões. Ela se expressa por meio de diferentes linguagens, sendo que nem sempre a fala é a sua única forma de comunicação. Os sons, balbucios, gestos, choros também fazem parte do seu repertório de interação com o mundo.
A Sociologia da Infância, por meio de estudos a partir de autores como Corsaro(2002), Qvortrup(2010), Sarmento(2007) revela que bebês e crianças devem ser entendidos como atores sociais capazes de criar e modificar culturas. Estudos como esse contribuem para o desenvolvimento de ações e políticas públicas que considerem os bebês e crianças como sujeitos de direitos, como cidadãos. Assim, é preciso,
“(…)considerar a criança como pessoa histórica e socialmente situada, reconhecendo que as crianças vivenciam sua(s) infância(s) de diferentes maneiras, a depender dos contextos nos quais se inserem. (…) Mas por que pensar sobre as infâncias? Involuntariamente, gostemos ou não, a infância faz parte da sociedade e da política social. Qualquer esforço para excluí-la ou mantê-la a margem é ilusório.” (Qvortrup, 2010, p.785).
Por muitas vezes as crianças são olhadas como um investimento, principalmente quando são pensadas como ‘um vir a ser’, ou seja, a infância vista como uma fase de preparação para o futuro. Essas ideias permeiam o imaginário da sociedade onde as crianças são colocadas em uma posição de espera, apesar dos modos de convívios e contextos sociais estarem em permanente transformação.
É preciso avançar sobre como atender, acolher e entender bebês e crianças de zero a seis anos em espaços públicos e privados, respeitá-las na sua integralidade, e na sua capacidade de produzir cultura agora no presente.
Olhe o que separamos para você
Sobre o termo infâncias– O Coletivo Cais optou pelo termo infâncias, no plural, considerando que conforme o contexto (meio social e cultural, etnia, gênero) as crianças vivem essa fase da vida de maneiras diferentes.
A Sociologia da Infância tem como objetivo analisar a partir dos seus estudos, como tem sido essa visibilidade ou invisibilidade. Segundo Jens Qvortrup, se entende o sentido psicológico e biológico da criança individual. Por crianças entende-se uma pluralidade de crianças como um grupo ou coletividade, mais ou menos coesa. Por fim, a infância é definida em termos sociológicos como uma categoria permanente. Seja falando sobre criança, crianças ou infância observamos diferentes graus de visibilidade, historicamente instituídos.
QVORTRUP, J. Visibilidades das crianças e da infância. Linhas Críticas. Brasília/DF. 2014.
SARMENTO, Manoel Jacinto. Visibilidade social e estudo da infância. Junqueira e Marin Editores. 2007.