“Os bebês reagem às palavras que lhes são dirigidas na linguagem que usualmente os adultos, em todas as culturas, utilizam para falar com eles: pronunciam claramente as consoantes e vogais, usam uma melodia mais aguda e tendem a repetir as palavras e as sentenças. É uma fala com carga emocional e que exprime afeto e acolhimento. E os bebês entendem.” (Lima, 2021, p.35)
Qual a importância da comunicação na primeira infância?
A comunicação deve ser entendida como uma necessidade humana de estar e agir no mundo, como fruto do intercâmbio social. Quando do nascimento suas ações são reflexas e comumente existem as condições que lhe permite estar no mundo, como é o caso da busca pela alimentação, bem estar físico e aconchego.
O surgimento da linguagem oral gera ao bebê inúmeras possibilidades, é como se ele renascesse para novas fronteiras, novos desafios. O contexto onde vive e com quem convive não pode ser desconsiderado, pois, para todos os efeitos, a cultura é precedente também para o desenvolvimento da fala.
Os bebês são receptivos às palavras, se mostram atentos, interessados e respondem ao seu modo, com o corpo, com o sorriso, com balbucios, choros, etc..
As palavras que são ditas ao bebê contribuem para que ele vá construindo referências, favorecendo a construção de um repertório de sons, gestos e também de palavras. Essa experiência com pessoas em situações reais de comunicação encoraja o bebê a ensaiar as primeiras palavras.
Cantigas, parlendas, histórias cantadas e brincadeiras afins são capazes de gerar memórias afetivas que deixarão marcas para sempre. Daí a importância das brincadeiras da tradição oral, pois, são representativas e contribuem na constituição do ser(tornar-se) humano.
Através dessas brincadeiras o bebê tem boas oportunidades de se comunicar com o mundo adulto. Brincando ele desenvolve relações de confiança consigo mesmo e com os outros. Você já presenciou a alegria de um bebê ao brincar de se esconder com as mãos? Ou mesmo cobrir com um tecido no rosto para brincar de se esconder e achar? É incrível o quanto a verbalização da palavra “achou” nessas brincadeiras gera uma correspondência imediata no corpo infantil, e sem ela a brincadeira não tem o mesmo efeito.
Nesse processo de conquista da fala, os que cuidam do bebê/criança precisam ficar atentos para não antecipar o que ele quer dizer, mas sim incentivá-lo a conversar, posicionando-se à sua frente ao pronunciar as palavras. É importante nessa conversa não ficar corrigindo palavras ditas de forma errada, mas sempre que possível e dentro do contexto, utilizá-la de forma correta.
Cada um tem seu tempo e sua história e devem ser respeitados. As conversas precisam ser constantes e com garantia de que a criança possa se expressar como sabe. Oferecendo atenção e paciência em ouvi-la, você garante que ela sinta-se confiante em continuar se comunicando mesmo quando ainda não alcançou a fala.
Projeções e comparações entre crianças, no intuito de promoção ou aceleração da fala infantil não colaboram para o seu desenvolvimento. Outro equívoco é submeter a criança a exercícios fonoarticulatórios sem que haja indicação de um profissional ou mesmo a treinos vocálicos, tampouco infantilizar essa comunicação, exagerando no uso do diminutivo ou reforçando o jeito “errado” que a criança fala algumas palavras. Pode parecer extremo, mas, muitas vezes, a ansiedade do adulto em ver a criança falando pode levar a alguns exageros.
À medida que a criança cresce, outras questões vão surgindo e passa a ser importante um adulto atento para acompanhar as mudanças na elaboração da fala e do pensamento.
Crianças têm muitas perguntas… mas também levantam muitas hipóteses em seus questionamentos! São curiosas por natureza. Portanto, o primeiro passo diante de uma pergunta é procurar saber qual é a opinião dela sobre o assunto, antes de responder. A partir daí terá um bom parâmetro de onde continuar a conversa. Cuidado, não entre no modo “sou o adulto que sabe tudo e responde”.
Então, a nossa dica é que nessas situações em que a criança faça perguntas sobre questões que despertam sua curiosidade, fique atento para não dar, qualquer resposta, de modo automática ou simplificada, ou mesmo, não condizente com a capacidade de compreensão dela. É importante valorizar as dúvidas infantis e apresentar respostas que de fato vão ao encontro da sua idade e curiosidade.
Não temos neste texto a pretensão de fazer uma análise detalhada do desenvolvimento da linguagem, nem tampouco analisar as diversas etapas desse processo, mas, despertar sua observação e alguns pontos de atenção sobre a comunicação na primeira infância, para você que convive e portanto se comunica diariamente com um bebê ou criança.
Olhe o que separamos para você
Cada Criança é uma: Histórias de Desenvolvimento e Aquisição da Linguagem. Relato de Pesquisa. Revista brasileira de educação especial, n 28. 2022. Scielo Brasil. Link(último acesso em dez/2024). https://doi.org/10.1590/1980-54702022v28e0152
LIMA, ELVIRA SOUZA. A incrível aventura dos primeiros dois anos de vida.O que se passa no cérebro do bebê, p. 30-42. Editora Inter Alia, 2021.
MAHONEY, Abigail A. e ALMEIDA, Laurinda Ramalho (org.). Henri Wallon. Psicologia e Educação. Edições Loyola, 2012.