O que é o projeto de Zero a Um?

Davi (vovó Ana Celina) e Aurora (vovó Daisy) nasceram em junho de 2023 com uma diferença entre eles de uma semana; ambas as mães optaram por uma proposta de parto humanizado. E assim nasceu também no Cais o desejo de dar corpo para tantas ideias e experiências que estávamos vivendo. Davi e Aurora foram pauta de muitos dos encontros do Coletivo onde nós, Ana Celina, Daisy e Sandra nos dedicamos a juntar teoria e prática a partir de Winnicott, Dewey, Emmi Pikler, Wallon e tantos outros que foram aparecendo nessa jornada. É sobre essa rica experiência do primeiro ano de vida desses bebês e os nossos dilemas nesse período que vamos compartilhar com você!

“Não existe uma regra única para ler com o bebê, é no vai e vem dos dias que vamos aprendendo o que e como ele mais gosta de ler. Seja no colo, em pé ou sentados lado a lado no chão, na cama, no sofá, assim foi-se criando referências importantes para o momento da leitura. À medida que descobriram como virar as páginas também foi decidindo o momento que desejava  fechar o livro. Pelo fato da vovó ter mais tempo, era comum apresentarmos os livros novos que depois seriam compartilhados com os familiares.” (Coletivo Cais)

Os bebês e os livros 

Os livros chegaram como um grande aliado e logo ocuparam um lugar de destaque na rotina dos bebês. Ler e contar histórias foi um grande prazer. 

Logo nos primeiros meses de vida iniciaram as contações, com voz cadenciada, com entonações variadas, íamos chamando a atenção do bebê que estava aprendendo a reconhecer a nossa voz e que aquilo não era um bate papo! Para os olhinhos atentos não passava desapercebido que a vovó estava fazendo algo muito especial e diferente. 

A partir dos 5, 6 meses de idade, os livros passaram a estar em seu campo de visão e os títulos foram aos poucos sendo ampliados. Escolhemos um lugar para guardá-los que estivesse sempre ao alcance deles, e priorizamos que as leituras fossem de suas escolhas, de títulos previamente selecionados.

Começaram a engatinhar, e ora por vontade própria, ora por convite da vovó, a leitura foi se tornando um hábito e o comportamento leitor foi se estabelecendo: como pegar o livro e pedir para ler, pois, já sabiam que não era um brinquedo; as tentativas de folhear as páginas, pois, entendiam que tinha algo a mais para ver e ouvir; pedir a repetição da história ou um choro que demonstrava que não queria que a história acabasse. Logo aprenderam que era possível recomeçar, bastava abrir o livro de novo!

Diversas estratégias foram usadas, como, abreviar o texto sem trazer palavras fora do texto; chamar a atenção para as imagens e para personagens que marcavam a história. Muitas vezes passamos poucas páginas e logo vinha o fechamento do livro pelas mãozinhas que o segurava, e por vezes o mais interessante de tudo aquilo era abrir, fechar e virar as páginas do livro. 

Com as primeiras palavras também vieram as expressões de espanto, as risadas e o reconhecimento de alguma imagem como bola, sol, passarinho, cachorro, gato, etc..  começam a expressar quais as partes preferidas do livro.

Fizemos muitas descobertas só de observar os bebês, e constatar que a cada conquista alcançada, fosse do movimento, da linguagem, já era hora de trazer um novo desafio para esse momento da leitura. Novas propostas eram sempre bem aceitas pelos pequenos.

Davi e Aurora, chegaram a um ano de idade, apreciando estar em meio aos livros,  fazendo suas leituras. Reconhecem a sua coleção de livros e sabem com quais histórias querem se encantar.

E agora o que fazer?

Foram várias as situações que envolveram pensar a leitura para os bebês. Em que momento e como fazer o rodízio de livros, o que fazer quando ele saía no meio da leitura, quando pedia a leitura de outro livro antes de terminar a leitura anterior, como ensinar que o livro após manuseio deve ser guardado? Essas foram algumas vivências em que lançamos mão de estratégias para lidar com essas situações:

• Manter sempre o livro preferido do momento, acessível. Não importa quanto tempo isso dure. É importante que ele leia quantas vezes desejar, e acredite, vai ler muitas vezes o mesmo livro e assim aprendendo sobre ele. Desta forma, constrói a preferência por esta ou aquela história.
• Ampliar os cantinhos do livro pela casa, organizando-o também em outros espaços de permanência dos bebês, como sala, quarto, quintal, escritório. Isso oportunizou mais contato com os livros.
• Uma quantidade menor de 3 a 5 livros foram expostos em locais de fácil visualização e acesso, o que facilitou o manuseio e a leitura individual a partir dos 9 meses.

Percebam que são situações cotidianas que muita gente já deve ter passado e nem por isso são menos importantes ou menos complexas  porém evite normalizar frases como, é difícil ler para bebê, ele não presta atenção, se distrai com facilidade…

Olhe o que separamos para você

“A leitura na primeira infância promove experiências significativas com as linguagens a partir da interação com os livros.  O contato dos bebês com a palavra lida tem uma relevância significativa nas primeiras relações afetivas. As experiências ligadas à arte, e dentre elas a literatura são importantes para o desenvolvimento das potencialidades infantis, principalmente quando mediadas pelo adulto ou alguém mais experiente. Ao ser apresentado ao mundo através dos livros, o bebê alimenta sua imaginação e percepção do mundo, que se dá a partir das suas reações durante e após a leitura. São muitas as contribuições da neurociência e o papel da literatura para o desenvolvimento infantil. (…) Habituar o bebê a ouvir histórias e a se relacionar com o livro, desenvolve o desejo de ler. O adulto exerce um papel fundamental na relação do bebê com o livro.” – Leitura para bebês – parte 1, texto do Coletivo Cais publicado no blog em 2024 – https://coletivocais.com.br/leitura-para-bebes-parte-1/ :

“A leitura para bebês é uma importante forma de interação e coloca o adulto no papel de incentivador, cuja primeira ação é acreditar que essa é uma experiência que faz sentido para os pequenos também. Quando lemos nos colocamos à disposição, antes, durante e depois de ler. Esses momentos – antes de ler, durante a leitura e após a leitura, são complementares e permeados de significados. A  relação com o livro, considerando o seu conteúdo escrito, as imagens, o modo de manuseá-lo, é indicado pelo leitor mais experiente.” – Leitura para bebês – parte 2 “Como ler para os bebês”, texto do Coletivo Cais publicado no blog em 2024  – https://coletivocais.com.br/como-ler-para-os-bebes/  

“É fundamental ler com frequência para o bebê e observar seus  interesses, preferências e emoções, quando estão em contato com os livros.”- Leitura para bebês – parte 3 “Critérios para escolha de livros”, texto do Coletivo Cais publicado no blog em 2024 – https://coletivocais.com.br/leitura-para-bebes-parte-3-criterios-para-escolha-de-livros/